Recheios pra kong

   Muitas pessoas adquirem o kong ou outro brinquedo similar mas não sabem a melhor maneira de oferecê-lo ao seu cão. Já ouvi de muitas pessoas que compraram o brinquedo (que não é nada barato aqui no Brasil) que o cachorro não se interessou ou que ele tirava rápido demais o recheio. Ao perguntar com o que elas rechearam veio a surpresa: com ração seca ou colocaram um biscoito dentro do #Kong que era simplesmente impossível de tirar. Recheios muito fáceis ou impossíveis de tirar podem frustrar o #cão e fazer com que ele perca o interesse no brinquedo, desta forma evite colocar a ração seco ou biscoitos, palitinhos, bifinhos etc. dentro do kong. No vídeo abaixo você pode conferir algumas sugestões de recheios úmidos para colocar no kong. Os recheios úmidos são mais trabalhosos de tirar, porém vão manter seu cachorro entretido por muito mais tempo. Inclusive, para deixar a brincadeira ainda mais desafiadora para o peludo você pode rechear o kong e levá-lo ao congelador antes de oferecer para seu #cachorro.



Senta - em quais situações utilizar?

   Diversas vezes eu perguntei aos meus clientes: você sabe por que eu vou ensinar seu cão a sentar? Para a minha surpresa, praticamente todos, não sabiam os motivos de tal ensinamento. E mais, as mesmas pessoas que NÃO sabiam pra que servia ensinar isso ao cachorro pediram que eu ensinasse mesmo sem saber a finalidade. Curioso, não? 
   Pois bem, o comando ou comportamento "SENTA" é um dos mais importantes no adestramento, pois além das inúmeras aplicações no nosso dia-a-dia (como alguns exemplos do vídeo abaixo) ele pode ser utilizado no processo de modificação comportamental como comportamento alternativo, ou seja, que substitui outros comportamentos como o pular nas pessoas, correr em direção a um estímulo (cão, pessoa) etc. 
   Agora que você já sabe como usar esse comportamento, aproveite para treinar seu cachorro e colocar em prática o "SENTA" na sua rotina com seu cão!




O Mito da dominância

   A teoria da dominância, muito utilizada atualmente na justificativa dos comportamentos caninos e na educação deles, vem sendo questionada pela comunidade científica moderna. Por se tratar de uma teoria muito antiga e que relata o comportamento canino como se fosse igual ao comportamento dos lobos, muitos pesquisadores tem levantado questionamentos a respeito da fundamentação científica, da eficiência e dos efeitos causados por ela no adestramento de cães.

A ORIGEM DA TEORIA

   Essa teoria surgiu no início do século XX, com o coronel Konrad Lorenz. De acordo com as observações feitas sobre como seus cães se relacionavam entre si e como se relacionavam com ele, Lorenz concluiu que um cão mais agressivo e imponente se tornava dominante e o outro que aceitava isso se mostrava submisso mostrando-lhe a barriga (virava de barriga para cima). Lorenz acreditava que a mesma relação de dominância e submissão acontecia entre pessoas e cães, pois quando ele aplicava uma punição a um de seus cães, esse mostrava a barriga, ou seja, se submetia ao dono.
   A partir da década de 1940 em diante, muitos estudos a respeito do comportamento de Lobos foram produzidos, até que na década de 70, o biólogo David Mech, em seu livro Os Lobos, apresenta a nomenclatura macho alfa e fêmea alfa. Essa denominação foi estabelecida a partir de um estudo sobre um grupo de lobos que vivia em cativeiro, ou seja, esses lobos eram de idades diferentes, sexos diferentes e não tinham parentesco algum. Desta forma, ao serem forçados a conviver em cativeiro, esses lobos travavam batalhas pela disputa dos recursos (comida, reprodução, território, etc.) e assim estabeleciam uma hierarquia entre si. Com isso, a nomenclatura macho alfa e fêmea alfa foi designada aos lobos que atingiam o topo dessa hierarquia. Isso foi extrapolado para o comportamento de cães, pois achava-se que eles agiam de forma igual.
   Para completar a teoria da dominância, também na década de 70, treinadores americanos, os Monges de New Sketes, lançaram um livro (How to be your dog´s best friend) que além de reunir as informações produzidas acerca do comportamento dos lobos na época, incentivava os donos de cães a produzirem a manobra Alpha Roll-Over, que consiste em forçar um cão a ficar deitado de lado (sem mostrar resistência) como forma de mostrar submissão a seus  donos. Essa manobra surgiu do comportamento Alpha Roll-Over que os lobos apresentavam ESPONTANEAMENTE uns para os outros em determinados contextos (afiliação e apaziguamento).
   Atualmente, com o altíssimo grau de popularidade de programas televisivos como o famoso O Encantador de Cães (Cesar Millan) a teoria da dominância parece ter ganhado nova força e se disseminado no mundo todo. Cesar Millan reúne em seu programa os conceitos baseados na teoria da dominância (cão dominante, cão submisso, alpha roll, líder de matilha etc.) para explicar os mais diversos comportamentos caninos que aparecem nos episódios do programa. Ele, ainda, incentiva (mesmo que de maneira velada) as pessoas a serem líderes de suas matilhas através de condutas que vão desde corrigir "maus" comportamentos com trancos na guia até fazer alpha rolls e por meio do uso de uma postura corporal que tenta simular como os lobos se comportam.

OS PONTOS FRACOS DA TEORIA

   Sabe-se, hoje, que um cão ao mostrar a barriga de maneira espontânea para outro cão ou para uma pessoa pode representar duas coisas: um sinal afiliativo (como se estivesse convidando alguém para uma aproximação pacífica ou até para pedir cafuné) ou um sinal de apaziguamento, para evitar algum tipo de conflito. Isso vai variar de acordo com o contexto em que esse sinal corporal é apresentado. Logo, a validade do que foi dito por Lorenz parece ter sido colocada em cheque, ou seja, mostrar a barriga não é exatamente um sinal de submissão, de que um indivíduo "manda" no outro.
   Outro ponto que foi refutado foi o da nomenclatura macho/fêmea alfa. E foi refutado por, nada mais nada menos, que o próprio David Mech. Em novo estudo conduzido na década de 90/2000, Mech observou que o comportamento de lobos em cativeiro não segue um padrão natural. Ao estudar um grupo de lobos que viviam em habitat natural, o que foi observado é que esses animais formavam, na verdade, famílias em que os pais (lobos progenitores) assumiam a "liderança" natural e os filhos estavam abaixo na hierarquia, muito parecido com uma família humana. Além disso, foi constatado que não haviam conflitos extremos por recursos, como foi visto nas matilhas artificiais, e assim que os filhos mais velhos atingem a maturidade sexual eles saem de maneira espontânea da sua matilha de origem para procurar parceiros sexuais e formar suas próprias matilhas. Ou seja, a denominação macho/fêmea alfa deixa de ser correta.
   Os Monges de New Sketes, no início dos anos 2000, editaram seu livro que falava e incentivava o uso do Alpha Roll-Over. Na nova versão, eles desencorajam fortemente o uso dessa manobra, afirmando sobre o risco à integridade física das pessoas ao usá-la pois os cães podem reagir com mordidas. Além disso, eles desencorajam as pessoas a tentar "dominar" seus cães física ou verbalmente pois eles podem ficar medrosos e até neuróticos. Ou seja, mais uma parte da teoria da dominância que foi colocada em cheque e desaprovada por seus próprios autores.
   Por último, diversos pesquisadores do comportamento animal (John Bradshaw, Alexandra Horowitz, Mark Beckoff, Adam Miklósi etc.) descartam a formação de vínculo hierárquico entre cães e pessoas. Inclusive, John Bradshaw em seu livro CãoSenso, afirma que se a espécie ancestral que deu origem ao cão estivesse tentando "dominar" pessoas há cerca de 15.000 anos atrás (quando a domesticação iniciou), o processo de domesticação sequer seria possível. Além disso, não há relatos e exemplos de espécies DIFERENTES estabelecendo relações hierárquicas, logo, por que isso só iria acontecer entre pessoas e cães? Não faz o menor sentido! São espécies diferentes, que se comunicam de forma diferente, tem interesses diferentes, alimentação diferente, reprodução diferente, uma espécie é quadrúpede outra é bípede, ou seja, são espécies completamente diferentes. Sendo assim, tentar ser líder de matilha não parece sensato! Ou você realmente acha que seu cão te enxerga como outro cão?
   Para finalizar, se você revisar a origem da teoria, note que ela foi baseada no estudo do comportamento de LOBOS. Atualmente, já foi comprovado que cães NÃO são lobos e não descendem diretamente de lobos. Lobos e cães possuem um ancestral em comum, mas são espécies completamente diferentes, apesar das semelhanças físicas. Logo, é estranho pensar que podemos aplicar a teoria da dominância e explicar comportamentos caninos como se fossem iguais aos dos lobos. Simplesmente não faz sentido!

MAS POR QUE A TEORIA AINDA É UTILIZADA?

   Muito simples: porque com ela é possível (de maneira rasa e sem fundamento) explicar qualquer comportamento canino. Por exemplo, se você tem um cão que pula nas pessoas ele faz isso porque é dominante, ora pois. Quer outro exemplo? Se você tem um cão que está apresentando comportamento agressivo em determinada situação isso significa que ele quer te dominar. Mais um exemplo? Se você tem um cão que adora dormir no sofá/cama é porque ele está querendo dizer que manda na casa e em você. Não é fácil? Todo e qualquer comportamento tem a mesma explicação: seu cão é dominante ou submisso.
   Mas será que um animal tão complexo, com um repertório comportamental tão vasto age sempre pelo mesmo motivo? Óbvio que não! A teoria da dominância é tão sem fundamento que ela descarta e ignora que os comportamentos estão relacionados com uma série de fatores, como por exemplo, condição de saúde do animal, contexto em que o comportamento ocorre, motivação, reforços, aprendizado, punições e por aí vai. Não seria mais correto interpretar que um cão que pula nas pessoas o faz porque já foi muito recompensado por isso com festinhas e afagos? Da mesma forma, cães que mostram uma resposta agressiva quando são tocados, por exemplo, podem estar com dor física e, desta maneira, ao se cansarem de emitir sinais como rosnados e mostrar de dentes, pois são ignorados pelas pessoas, aprenderam que morder é a forma mais eficiente de afastá-las quando elas tentam tocá-los? E ainda, que cães que dormem em sofás e camas o fazem porque esse lugares são super confortáveis e quentinhos? Essas explicações parecem mais plausíveis, não?


CONSEQUÊNCIAS DO USO DA TEORIA PARA OS CÃES

   Além de infundada, a teoria da dominância induz de forma velada o uso da violência na educação dos cães. A partir do momento que um adestrador, um veterinário ou até mesmo você rotula seu cão como "dominante", imediatamente passa pela cabeça uma forma de "combater" esse mal, de corrigir os comportamentos dominantes, de mostrar quem "manda". Independente se a punição utilizada é física, verbal, intensa ou "branda" ela não deixa de ser uma punição. Enforcadores, colares de choque, colares de grampo, borrifadores, latinhas com moeda, bombinhas, jornal enrolado, chineladas, gritos, tapas, chutes, toques à la Cesar Millan, alpha rolls são todos artifícios utilizados para corrigir comportamentos. E todos eles são uma forma de causar dor, medo, desconforto no cão, ou seja, todos eles estão relacionadas à violência. Como consequência disso? Cães apresentando comportamentos agressivos, de medo, de ansiedade pois não sabem o que esperar de seus tutores pois ora são acarinhados e ora são repreendidos. No outro lado, pessoas que passam a enxergar seus cães como verdadeiros inimigos que devem ser combatidos a todo custo antes que eles os dominem. E o resumo da ópera é: cães sendo mau-tratados, abandonados, isolados em canis e presos em correntes e até sendo eutanasiados porque levam o pesado rótulo de serem "dominantes".

COMO EDUCAR, ENTÃO?

   O primeiro passo para educar um cão é se munir de conhecimento para isso. Seja através da contratação de um(a) adestrador(a) profissional ou de um veterinário que conheça o comportamento canino (baseado em ciência e não em programas de televisão) .
   O segundo passo é sempre optar por uma metodologia livre do uso de aversivos e punições. Você já pensou que ao invés de punir um comportamento que você não gosta é bem melhor ensinar um comportamento alternativo que possa substituí-lo? Voltemos ao exemplo de um cão que pula nas pessoas. Ao invés de perder tempo punindo os pulos, é bem melhor e mais rápido treinar esse peludo para se sentar quando for receber uma pessoa. Nenhum cachorro é vidente para adivinhar como o tutor quer que ele se comporte, ele tem de ser ENSINADO a isso. Punições não vão ensinar a sentar, elas simplesmente vão comunicar que pular gera coisas ruins ao cão, mas ele continuará sem saber que tem de sentar quando uma pessoa se aproxima.
   Casos complexos que envolvem comportamentos agressivos, fóbicos, compulsivos devem ser avaliados de maneira minuciosa por um profissional capacitado para que protocolos de modificação comportamental sejam aplicados com eficiência, isso quer dizer que, não existe uma "receita de bolo" para modificar os comportamentos, mas sim trabalho duro e muito esforço sempre respeitando a individualidade de cada caso e cada cão.
   Desta forma, o treino baseado em reforço positivo e sem uso de aversivos torna a comunicação entre cães e pessoas muito mais eficaz, pois os cães são ensinados a apresentarem espontaneamente comportamentos que são desejados por seus tutores, sem a necessidade de serem forçados a nada.

A teoria da dominância nada mais é do que uma justificativa para o uso de violência na educação de cães. Os nossos melhores amigos não merecem isso! Pense nisso.
 
Referências: CãoSenso (John Bradshaw), A cabeça do cachorro (Alexandra Horowits), O choque de culturas (Jean Donaldson), Antes e Depois ter seu cachorro (Dr. Ian Dunbar),  Don´t shoot the dog (Karen Pryor), www.drsophiayin.com
 
 



Palestra sobre comportamento canino

Data: 9/3/16
Local: Auditório 3, Instituto de Biologia, UnB
Horário: às 19h
Para se inscrever basta mandar e-mail para paula@cachorrosabido.com.br expressando desejo de participar. Daí, é só aguardar e-mail de confirmação da inscrição!
Vagas limitadas.